
Flora, nascida na histórica cidade de Córdoba, carregava em sua história uma mescla de culturas e crenças. Filha de um pai muçulmano e de uma mãe cristã, foi educada no seio da fé cristã em segredo. Mesmo sob a opressão e a vigilância, ela recebeu o batismo clandestinamente e manteve sua devoção escondida. O destino de Flora tomou um rumo sombrio após a morte de seu pai, quando seu irmão, seguindo a fé muçulmana, a denunciou ao cadi, uma autoridade islâmica.Diante das acusações, Flora enfrentou uma crueldade inimaginável. Foi açoitada brutalmente e sofreu agressões à sua integridade. Até mesmo a esperança de fazê-la apostatar, abandonando sua fé, foi explorada. No entanto, Flora escapou dessas provações e encontrou refúgio na casa de uma irmã. Nos arredores de Martos, ela viveu oculta por seis anos, enquanto o califado de Córdoba estava mergulhado em um período de agitação, com os mouros predominantes.A atmosfera era tensa, e aqueles que abrigavam cristãos enfrentavam consequências terríveis. Devido a esses riscos, a irmã de Flora e os membros da casa tiveram que pedir que ela saísse. Flora, sem saber para onde ir, chegou à Basílica de São Acisclo, um refúgio no meio da tormenta. Lá, ela encontrou Maria, que também carregava uma história de luta. Maria, que fora educada no mosteiro de Santa Maria de Cuteclara sob a orientação da virtuosa viúva Artemia, estava buscando o martírio. Seu irmão, o diácono Valabonso, havia sido martirizado, e ela mesma estava sob ameaça.Com os perigos à espreita e sem enxergar outra opção, Flora e Maria decidiram enfrentar a adversidade de frente. Elas se apresentaram diante do juiz e professaram publicamente sua fé cristã. A consequência foi o aprisionamento, mas elas não estavam sozinhas. Santo Eulógio, que também estava nas mãos das autoridades, testemunhou a coragem das duas virgens. Impressionado com sua fortaleza e sofrimento, ele compôs o emocionante tratado "Documentum martyriale", uma poderosa apologia ao martírio.Interrogadas e submetidas a pressões pelo cadi, as duas mulheres permaneceram inabaláveis em sua fé. Em 24 de novembro de 851, durante a perseguição brutal liderada pelo emir Abd al-Rahmàn II, Flora e Maria foram decapitadas. Seus corpos, abandonados no campo, foram respeitados por criaturas selvagens e, por fim, jogados no Rio Guadalquivir. O corpo de Maria foi encontrado e honradamente sepultado pelos cristãos no Mosteiro de Cuteclara. As cabeças das duas mártires encontraram descanso na Basílica de São Acisclo, uma lembrança vívida da resistência e da fé inabalável que Flora e Maria demonstraram em meio à adversidade.