No início do século VI, a pequena cidade de Ruspe, na província romana da Bizacena, havia ficado sem um bispo devido às políticas do rei visigodo Transmundo, que era fervorosamente ariano e proibia a eleição de novos bispos católicos. No entanto, os bispos de Bizacena decidiram resistir a essa injusta restrição.

Entre os candidatos à posição de bispo estava Fulgêncio, um homem notável por sua profunda cultura teológica e humanística. Nascido em 467, em uma família romana estabelecida em Cartago, ele não apenas administrou eficazmente o rico patrimônio de sua família, mas também serviu como procurador dos impostos da província. Embora inicialmente tenha seguido uma vida secular, Fulgêncio experimentou uma transformação espiritual após ler o comentário de Santo Agostinho sobre o Salmo 36. Esse encontro levou-o a abraçar a austeridade e buscar a solidão em sua jornada espiritual.

Ele até tentou viajar para encontrar monges no Egito, mas uma reviravolta inesperada o levou a ancorar em Siracusa. Foi nesse momento que ele recebeu a notícia de que estava entre os candidatos ao episcopado.

Para evitar essa responsabilidade, Fulgêncio se escondeu em um local isolado, esperando que a eleição dos bispos ocorresse sem sua participação. No entanto, quando finalmente reapareceu, uma das cidades ainda estava sem bispo, a pequena Ruspe. Os bispos, ansiosos para preencher essa lacuna, consagraram Fulgêncio como bispo, apesar de sua resistência.

Essa decisão teve consequências imediatas, já que o rei Transmundo, furioso com a eleição de Fulgêncio e outros bispos católicos, os enviou ao exílio na Sardenha. Em Cagliari, na Sardenha, Fulgêncio não perdeu tempo e organizou uma intensa atividade religiosa. Até o próprio Transmundo, que tinha interesse na teologia, se correspondeu com Fulgêncio, submetendo-lhe questões teológicas desafiadoras. Isso deu a Fulgêncio a oportunidade de escrever tratados teológicos que se tornariam amplamente conhecidos.

Após a morte de Transmundo em 523, os bispos exilados puderam finalmente retornar às suas dioceses. Durante os nove anos seguintes, Fulgêncio liderou sua pequena diocese de Ruspe com um estilo de vida profundamente monástico. Ele estabeleceu um novo mosteiro perto da catedral, onde ele mesmo vivia uma vida de simplicidade, dedicando grande parte de seu tempo à oração em comunhão e à composição de obras doutrinais e pastorais.

Fulgêncio era conhecido por sua generosidade, distribuindo todo o dinheiro que entrava para os pobres. Além disso, ele se destacava como pregador, e sua eloquência era tão impactante que, diz-se, o bispo de Cartago chorou de emoção ao ouvi-lo pregar na basílica de Furnos.

São Fulgêncio, bispo de Ruspe, faleceu em 1º de janeiro de 532, aos sessenta e cinco anos, rodeado por seus sacerdotes e após ter distribuído seus últimos bens aos pobres.