São Justino, o filósofo cristão cuja vida foi dedicada à busca incessante pela verdade, emerge do cenário histórico do início do século II como um pensador singular. Originário de Flávia Neápolis, na Samaria, sua jornada espiritual traça um caminho através das correntes filosóficas da época, desde o estoicismo até a filosofia pitagórica, aristotélica e neoplatônica. Nesse itinerário, Justino experimenta a insuficiência das respostas oferecidas por diversas filosofias e, movido por uma desilusão profunda, retira-se para um local deserto à beira-mar.

É nesse isolamento que Justino encontra um sábio ancião, que, ao ouvir suas inquietações, aponta para a limitação da razão humana e a necessidade do auxílio divino para alcançar a plenitude da verdade. Assim, aos trinta anos, Justino realiza uma descoberta transformadora: o cristianismo. Ele se torna ardente propagador dessa fé, expressando suas convicções por meio de obras significativas, destacando-se as duas Apologias dedicadas ao imperador Antonino Pio e a Marco Aurélio.

Essas Apologias não apenas servem como defesa da fé cristã perante as autoridades romanas, mas também oferecem vislumbres comoventes da vida na primitiva comunidade cristã. Justino, ao declarar-se "um deles," revela uma profunda identidade com seus irmãos na fé. Suas obras não são meras argumentações filosóficas, mas testemunhos vívidos da experiência cristã, descrevendo ritos litúrgicos, como a administração do batismo e a celebração do mistério eucarístico.

O legado de Justino não se limita às palavras escritas, pois sua fidelidade à fé cristã o leva ao martírio. Ao chegar a Roma, é denunciado por Crescêncio, um filósofo hipócrita com quem tinha disputado anteriormente. O magistrado que o julga, também um filósofo estoico e amigo de Marco Aurélio, enxerga Justino como um simples cristão, condenando-o à decapitação juntamente com seus seis companheiros, incluindo uma mulher.