Na Antiguidade, era costume reservar o azeite produzido nas primeiras prensas das azeitonas para fins sagrados e nobres. Esse azeite puro era utilizado em ritos de consagração e unção, enquanto o azeite subsequente era usado para manter as lâmpadas acesas diante do Senhor. Essa prática refletia a ideia de que os produtos mais refinados eram destinados aos propósitos mais nobres.

De maneira análoga, a vida da Igreja ao longo da história também produziu "azeites" especiais: indivíduos que, mesmo enfrentando as adversidades da vida, foram moldados pela graça divina e se tornaram exemplos de seguimento de Cristo. Um desses exemplos é São João D'Ávila, proclamado doutor da Igreja pelo Papa Bento XVI em 2012, cuja festa é celebrada em 10 de maio.

Nascido em 6 de janeiro de 1499 em Almodóvar del Campo, Espanha, João D'Ávila inicialmente estudou Direito na Universidade de Salamanca. No entanto, após uma profunda conversão, abandonou seus estudos e se tornou sacerdote. Seu desejo original de se tornar um missionário nas Américas deu lugar ao chamado para servir em sua própria terra.

Logo após sua ordenação em 1526, João foi preso pela Inquisição Real devido a uma má interpretação de uma de suas pregações. Passou dois anos na prisão, durante os quais começou a escrever "Audi, filia", obra que aborda o amor esponsal entre Cristo e a Igreja. Esse período difícil permitiu que João penetrasse profundamente no mistério do amor de Deus e do Redentor Jesus Cristo.

Após ser absolvido em 1533, João retomou sua pregação fervorosa do Evangelho pela Espanha. Ele tinha um desejo ardente de converter almas e respondia às necessidades da Igreja em uma época de desafios trazidos pelo humanismo e pela Reforma.

Além de sua atividade como pregador, João D'Ávila era um defensor da pobreza e da instrução das crianças e jovens. Seus escritos incluíam obras de espiritualidade, como "Audi filia", e também textos teológicos, como "O Tratado do Amor de Deus" e "O Tratado sobre o Sacerdócio". Ele também fundou escolas e contribuiu para a formação dos futuros sacerdotes.

João D'Ávila teve um impacto significativo na conversão de outros santos, como São João de Deus e São Francisco Borgia. Ele era conhecido por sua oratória eficaz, que ele atribuía ao seu amor por Deus e à sua dedicação à oração. Sua vida foi caracterizada por amizades santas, incluindo nomes como Inácio de Loyola, Pedro de Alcântara, Teresa de Jesus e João da Cruz.

Amigo próximo de Santo Inácio, João D'Ávila considerou a possibilidade de se tornar um jesuíta, mas sua saúde debilitada o impediu. Ele passou seus últimos 16 anos gravemente doente, quase cego. João D'Ávila faleceu em 10 de maio de 1569, segurando um crucifixo, na cidade de Montilla.

Assim como o azeite da primeira prensa era reservado para fins nobres, a vida de São João D'Ávila foi moldada pela forja das provações e da busca incessante por Deus.